7 de set. de 2014

-ARTESÃO-

Quero das estrelas fazer laços
Correntes para que não fuja
Que se distanciem os percalços
E a saudade se encurta

Da lua criar a cama
Com o abraço deste mar
Alimentando a eterna chama
Que vem nos testemunhar

Quero arrancar da Terra o fogo
Fazer do amor continuo antro
Entender que não um jogo
E prosseguir sem desencanto

Do tempo fazer escravo
Para que nunca chegue o fim
Findando o que eu agravo
Me tornando Arlequim

Quero arrancar o Sol do eixo
Para enfim, pôr você
Com os planetas, um enfeixo
Continuamente a lhe ver

11 de jul. de 2014

-EQUILIBRISTA-

Enquanto isso vai se exercendo o equilibrismo,
neste abismo, 
entre quem se é e quem se quer ser.

Mas nos perdemos,
nos apagamos,
nos esquecemos,
nos entregamos.

E é nesta busca por nos tornarmos quem não somos,
deixamos de ser quem fomos,
e abrimos mão de quem poderíamos ser.

E se é ausência,
é abstinência,
é aparência,
é inexistência.

Encaramos este espelho pintado por uma cerda grossa,
refletindo uma imagem que não nossa,
mas de um aquele que não sabemos ao certo quem é.

Resta a frieza,
a pobreza,
a miudeza,
a certeza... Somos os nada.

E dentro da indecisão, como poderíamos ser outra coisa?





3 de mai. de 2014

-TARÂNTULA-

Tenho um deus, para o qual nunca orei,
E amantes que nunca amei.
Sou o orvalho que estoura em uma pedra,
A água do aquário que se quebra,
A tarântula dançando pelas folhas
De um jogador eternamente sem escolhas.
Nunca se vai.
Apenas se esvai.
Dos cantos rimados de um pequeno bebê,
Aos ouvidos atentos daquele que não vê.
Não consigo gritar ou permanecer quieto,
Não sei o que fazer ou se isso importa ao certo.
Sou o chicote que me aflinge,
A charada da Esfinge,
Um carro sem freio
Surgindo de um grito que explode em meu seio.
Sou aquele que abraça sem sentir.
Um homem que nunca se foi - que nunca esteve aqui.
Pese o meu coração.
Sem feridas, sangrei até me tornar lama.
Que me transformem em vaso, e que este vaso quebre.