31 de out. de 2013

-PETALASDECARNE-

“Arranque o útero da sua mãe!”
“Arranque o útero da sua mãe!”
O pequenino, sem nome e sem sexo, acordou.
Sentiu demônios cochichando e cantarolando pelos cantos do cômodo.
Mal conseguia levantar de seu leito. 
O piso se mostrava muito mais cruel do que se fosse feito de pedras derretidas.
Trêmulo, mal conseguia colocar um pé na frente do outro.
“Vá! Arranque o útero da sua mãe!”
Os azulejos começaram a despencar; um fundo de carne pulsante se mostrava.
O frio sangue que marcava o chão, fez seus pelos se levantarem.
Sua mãe descansava no eterno. Seu ventre estava aberto como uma flor.
Pétalas de pele, músculos e vísceras, exalavam um odor nauseante. 
“Isto é culpa sua!” Disse o pai.
Antes que alguma lágrima pudesse sair de um de seus olhos, o pequenino acordou.
Olhou para todos os cantos. Ainda assustado, voltou a se deitar.
E então, ouviu: “Arranque o útero da sua mãe!”

8 de out. de 2013

-LUTAPELOSDIREITOSDOSPEIXESORNAMENTAIS-

- Em que posso ajudá-lo, senhor?
- Opa... Então, é que eu comprei um peixe aqui semana passada e eu quero o meu dinheiro de volta.
- Por qual motivo, senhor?
- Eu comprei um limpa vidro. Ele está limpando o aquário, realmente, mas não quer continuar sem ser remunerado.
- E o senhor acha que ele deve continuar trabalhando sem receber?
- Eu só quero o meu dinheiro de volta.
- O senhor vai pagar os dias de trabalho do Carl?
- Carl?
- O peixe, senhor.
- É claro que eu não vou pagar!
- Ele já foi comunicado à respeito disso, senhor?
- Eu não falo com peixes.
- Ah, o senhor é muito bom para falar com peixes, não?
- Olha só, você vai devolver o meu dinheiro ou não?
- Onde o Carl se encontra, senhor?
- No meu aquário lá de casa.
- Ele vai continuar trabalhando sem receber, senhor?
- Você vai devolver o meu dinheiro?
- Não, senhor.
- Então ele vai continuar lá até chegar a hora em que eu vou jogá-lo à descarga.



Logo após "O debate em Peixes Pai & Filho de 75", Carl Henry Max se tornou engajado na luta pelos direitos dos peixes ornamentais.


Carl morreu asfixiado durante "A grande quebra de aquários de 77", ocorrido após greves e muitos enfrentamentos contra bombas de oxigênio desligadas.

O dia de sua morte é lembrado todo 9 de setembro. Na data, se comemora a diminuição da carga horária dos peixes ornamentais, assim como, a conquista de um salário mínimo e férias obrigatórias.

27 de jun. de 2013

-TIMEFORTEA-

Sua pele desbotada fez o risco escarlate gritar enquanto descia pela panturrilha

Explodiu em meio à espuma, o pequeno agora pisava em um lago de cor rubra
Cambaleou aos quatro cantos até achar conforto em um grupo de moluscos mortos
A tarde envelhecia e o relógio já soava quando se ouviu: “chá!”



Os olhos do mancebo alimentavam os lábios dentados de pedra ao pé da encosta
Netuno limpava seus cortes e espumava a laguna
Gritava: “Chá! Chá!”
Para os céus o púbere lançou os seus pedidos

O teto azul, há muito, se tornara nubiloso
Sua cor se esvanecia lado-a-lado com seu sangue
“Chá!” o mar gritou



Um canino do bucal rochoso serviu de palanque para o discurso:



“Maldito seja tudo que sair do teu ventre!
Malditas sejam as florestas que vivem em teu pélago!
Malditos sejam os monstros marinhos!
Malditos sejam os que velejam!
Maldito seja! Maldito seja! 
Esteve com meu pai enquanto o ar povoava os seus pulmões,
E mesmo com sua morte, não me oferece um tardio adeus.”



O vento soprou
O dente rasgou
Sua carne furou
E então, do pé do abismo até sua crista, pôde-se ouvir: “Chá! Chá! Chá!”